A minha opinião
Publicado por Dr. João Fortuna
CÉLULAS ESTAMINAIS DO CORDÃO UMBILICAL. E SE EU NÃO ESCOLHER…SEREI UMA MÁ MÃE?
Esta é por motivos estritamente emocionais, um dos conflitos mais comuns das futuras mães.
Convém deixar clara a minha opinião sobre este assunto:
Existem 2 tipos de células estaminais :
1- Hematopoiéticas ou do sangue do cordão umbilical: Para transplante e substituição de células da medula óssea. Existem cerca de 80 doenças tratáveis com estas células, incluindo cancros, doenças do sangue e ainda doenças genéticas e do metabolismo. Infelizmente na quase totalidade destas, as células quase nunca poderão ser usadas no vosso filho, pois se ele desenvolver uma dessas doenças , não as poderá utilizar para tratamento, pois também estas células trarão as alterações genéticas que originaram essas patologias. Existem algumas excepções, sendo as mais conhecidas a anemia aplástica, beta-talassemia, neuroblastoma e o mieloma múltiplo.
2- Mesenquimais ou do tecido do cordão: Sem utilização prática actual a não ser em regime experimental. Estas células, apesar de muito promissoras para regeneração e engenharia de tecidos, necessitarão de muitos mais estudos e desenvolvimento tecnológico para serem utilizadas em benefício do vosso filho. E esse futuro parece-me ao meu olhar muito distante para dever ser ponderado pelos pais. Uma das limitações prende-se com a incapacidade actual de replicação indefinida dessas células estaminais, o que torna a amostra de células de tecido do cordão insuficiente para tratamento da maior parte das doenças potencialmente curáveis com essa terapia.
Existem 2 tipos de bancos de células estaminais:
1- Banco público: As células doadas para este banco destinam-se a ser usadas por qualquer indivíduo a nível mundial que seja afectado por alguma das doenças acima referidas e nunca pelo vosso filho. É uma doação só possível em vida no final de cada gravidez e o destinatário nunca será o vosso filho. Lembrem-se que ele está excluído porque se for portador dessa doença quase nunca deverá receber células estaminais também potencialmente doentes. Para além disso e pensando num irmão que pudesse beneficiar dessa dádiva, apenas cerca de 10% das amostras reúnem a qualidade que o Banco exige para que estas sejam seleccionadas e possam ser utilizadas pelos Bancos internacionais de células estaminais.
2- Bancos privados ou familiares: São todos aqueles que vos tentam aliciar para protegerem o futuro do vosso filho com a criopreservação das suas células estaminais. Aproveitam o vosso instinto de protecção e vulnerabilidade, mas não vos informam que as células terão muito maior probabilidade de ser usadas em familiares do vosso filho. Ou seja, se um outro vosso filho for afectado por uma daquelas doenças, este tem uma probabilidade de 25% de ser compatível com o sangue criopreservado do irmão, e só nessa probabilidade este seria aproveitado. São estes transplantes em irmãos que constituem a maior parte dos sucessos publicitados por estas companhias privadas com fins lucrativos. Calcula-se que em famílias que não possuam história de doenças passíveis de ser tratadas com células estaminais, a probabilidade de ser utilizada para o próprio é de 1 para 20.000, e de 1 para 5000 se incluírem todas as famílias. É importante ainda referir que os critérios de aceitação das amostras por estes Bancos são muito mais liberais, pelo que pode acontecer que a amostra criopreservada só tenha células para transplante de crianças até um peso inferior à da criança doente o que acarretará a necessidade de encontrar um dador suplementar.
Mas será inócuo colher células estaminais?
Nem sempre! A colheita pode ser realizada com a placenta dentro do útero (“in utero”) que é a técnica recomendada pela totalidade dos Bancos em Portugal, ou fora do útero após extracção da placenta com o cordão clampado (“ex útero”). Acontece que quando tentamos numa cesariana realizar a colheita in útero, tentamos ser rápidos para que possamos suturar a parede uterina que continua a sangrar, mas não evitamos a perda de maior quantidade de sangue do que teríamos se iniciássemos de pronto a sua sutura. Não é pois fora do comum encontrar anemias decorrentes deste procedimento em cesariana, e por vezes com necessidade de transfusão. Será que o benefício desta colheita justifica o risco acrescido para a mãe? Façam as contas e calculem quanto sangue materno teremos que aceitar perder para conseguir aproveitar uma unidade criopreservada e realmente transplantada. Portanto se realmente decidirem colher o sangue do cordão umbilical do vosso filho, seja para criopreservação em Banco privado, seja para doação para Banco público, ponderem muito bem a utilidade dessa colheita se vos for proposta a realização de uma cesariana.
Existem outras fontes de informação fidedigna:
https://parentsguidecordblood.org